Milho Regional: Base da Alimentação Tradicional Saudável na Gândara
Podemos dizer que o Milho foi a base da Alimentação Gandaresa. Tanto directamente – Broa e Papas de farinha de milho – papioca, como indirectamente, alimentando os animais – galinhas, porcos…
É originário da América Central e do Sul e aparece na Europa na época dos Descobrimentos, pós-Colombo. De planta quase desconhecida, tornou-se uma das mais cultivadas e consumidas no mundo inteiro! Produz uma flor masculina na sua parte mais alta, onde surgem os grãos de pólen, e uma flor feminina, que é a espiga, que se situa a meia altura da planta.
Em Portugal, o milho foi-se adaptando essencialmente às regiões Norte-Centro do País e Algarve, e foi responsável pela revolução agrícola dos séculos XVII e XVIII, tendo moldado a paisagem e a cultura. As diferenças orográficas e climáticas, além da componente humana, foram as responsáveis para que durante mais de cinco séculos a biodiversidade estivesse presente.
Na Gandara – Mira e Tocha em particular, o milho era tradicionalmente cultivado em simultaneo com a Abóbora e o Feijão – uma Consociação Perfeita.
Cedo se descobriu que a – Consociação – era vantajosa para as três culturas:
– A abóbora, rasteira tapava o chão evitando o aparecimento de pragas e fixando a humidade no solo
– O feijão (que enriquecia o solo com o tão escasso azoto), era o de trepar utilizando o milho como tutor (mais tarde também se usava o feijão rasteiro, limitando dessa forma a abóbora às bordaduras).
– O milho, como cultura principal, beneficiava de todas as outras e ocupava o extrato superior, recebendo maior radiação solar, para encher a espiga.
Assim surgiram as variedades regionais de milho português, hoje… quase em extinção, destronadas pelas modernas variedades “melhoradas” para serem mais produtivas e com maiores teores em “Corn Gluten”… sendo uma excelente solução para a alimentação animal, o mesmo não é verdade para a alimentação humana.
“Na Gândara os cereais eram vendidos nas feiras ou a pequenos comerciantes que iam passando de porta em porta a comprar. O cereal que ficava para consumo familiar, levava-se ao moleiro a moer, este trazia de volta os sacos de farinha que eram racionados para durar até à próxima produção, sem que faltasse a broa na mesa e o cereal para os animais.
Do milho fazia-se uma iguaria muito apreciada na gândara, as papas de milho ou papas de abobora que eram bastante consumidas pelo povo. As papas eram feitas de várias maneiras desde um fundo de azeite com toucinho ao qual se juntava a farinha de milho e se deixava cozer, ou juntando a farinha a um caldo de sopa ou de cozido. Mas a forma que mais se apreciava as papas era fazê-las com abóbora-menina porque esta deixava um sabor adocicado, estas papas eram ainda apreciadas com os torresmos do porco ou com uma sardinha salgada e frita. “ Miranda, Elisabete em “Terras da Gândara. O quotidiano das gentes e a cozinha Gandaresa. As memórias dos saberes e dos sabores”
A alimentação tradicional da Gândara, de base mediterrânica, mas assente na farinha de milho Regional, no feijão e nas couves e na carne de porco, da matança anual, era uma alimentação Saudável, adaptada ao estilo de vida rural – grandes necessidades energéticas.
A riqueza da diversidade genética e as características únicas das variedades de milho tradicionais, são um património imperdível, nomeadamente para ajudar a controlar um problema de saúde mundial – a intolerância ao Glúten, segundo alguns autores, de modo generalizado, mesmo daqueles que não são considerados celíacos.
“Uma das particularidades de muito do germoplasma (reserva de património genético das espécies botânicas) nacional de milho é a sua capacidade tecnológica para panificação.
O tradicional pão de milho português, broa, tem grande potencial para combater as actuais preocupações alimentares e ambientais. Com a possibilidade de ser um produto sem glúten, se for 100% de milho, a broa é indicada para os celíacos (Brites et al., 2010). Tem ainda um importante papel na economia rural das regiões Centro e Norte de Portugal (Vaz Patto et al., 2007) e um incremento no seu valor de mercado, devido aos benefícios para a saúde, pode ser a forma de preservar a biodiversidade dos ecossistemas agrícolas actualmente ameaçados, onde ainda se produz a sua matéria-prima, as variedades tradicionais de milho.” In http://www.agronegocios.eu/noticias/milho-passado-presente-ou-futuro/
Na Greenside of Sea Hostel poderá, mediante solicitação prévia, desfrutar de broa de milho da Gandara, feita com milho regional moído em moinho de água tradicional.
A nossa missão é contribuir para dinamizar a economia rural local, no sentido de compensar as perdas da agricultura de subsistência, devidas às alterações da lógica de mercado, onde os pequenos produtores não têm lugar e, quem sabe, inspirar os jovens para uma Nova agricultura para auto-consumo em resposta às crescentes preocupações com a da alimentação/Saúde e sustentabilidade socio-ecologica.